Chega de Saudade! (manifesto anticomemorativo dos 50 anos da bossa nova)

outubro 12, 2008

Jackson do Pandeiro tem sua valorização diminuída na música brasileira perante os artistas da bossa nova. Sendo seu nome uma unificação entre o estrangeiro e nacional, em sua originalidade mais fiel, sua música poderia muito bem atender aos conceitos bossa novistas. Mas, não é este o caso. Pois, o próprio entoava que “só ponho bebop no meu samba quando o Tio Sam pegar no tamborim, quando ele pegar no pandeiro e na zabumba, quando ele aprender que o samba não é rumba”.

Na bossa nova, os artistas da música popular brasileira não esperaram que o Tio Sam pegasse no tamborim. Eles acabaram botando o bebop no samba, fazendo o país, e o mundo, engolirem um pseudo-jazz, disfarçado de música brasileira.

A letra é da música ‘Chiclete com Banana’, de autoria de Gordurinha e Almira Castilho,  que somada a musicalidade de Jackson, demonstra como a bossa nova não soube valorizar as estruturas harmônicas e melódicas da música brasileira. Construíram sua base sobre a égide do jazz, gênero americano. O conceito de Jackson foi seguido por artistas no país, que conseguiram grande repercussão dentro e fora das terras tupiniquins: Alceu Valença pegou o forró de Luiz Gonzaga e misturou com os shorts das meninas, e atiçou Oropa, França e Bahia; Lenine ao consumir e mastigar Aipim junto com Coca-Cola incitou toda a Europa com seu som caracteristicamente brasileiro e contemporâneo; e Chico Science que botou discman no caranguejo em meio ao caos da lama, fez as regiões ao sul do país reverenciar a cultura do mangue. A música desses artistas foi digerida, e resultou em uma nova identidade musical da era globalizada, onde a fusão do original com o importado não é apenas mais um produto corriqueiro dentro do cardápio exótico do consumo mundial, assim como Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro botaram o coco para ralar, levando para o país inteiro um som genuinamente brasileiro.

Enquanto houver o valor supra-estimado da bossa nova como característica da genuína música brasileira, precisaremos de mais 50 anos para valorizar o que é de raiz e o que pode até ter influências de outras culturas, mas desde que utilizamos isso para criar algo caracteristicamente brasileiro.